terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

Expansão urbana: Ações de modernidade para a “velha cidade”- As Minas e os Morros entre problemas e soluções.

Vila Rica.
“Entre montanhas, de imensa altura,  e delas rodeada, em forma que a vista senão pode estender, se levantou esta vila, e suposto que abatida pela profundidade em que esta a maior parte dela situada, mais soberba, e opulenta que todas, assim pela frequência de comerciantes, como pela abundância de suas minas, mormente da inacessível Montanha de Tapanhacanga, em cujas fraldas se encosta, e descansa. Esta serra é um Potosi de ouro”

Vista geral da Cidade de Ouro Preto
 O acervo por nós custodiado possui um grande potencial de pesquisa no que tange as ações executadas pelo poder publico que provocaram a transformação de Ouro Preto no que ela é hoje. Nesta postagem apresentamos fragmentos de um estudo que foi encomendado pela Câmara Municipal de Ouro Preto, nos anos finais do século XIX, na busca de soluções para a expansão do núcleo urbano da cidade, limitada pelas antigas concessões de Sesmarias e Datas minerais. 

Medição e Demarcação da Sesmaria limitrofe da cidade de Ouro Preto de 1.808 .
            Estas transformações, definidas ou não por conceitos e regulamentos, como o estabelecimento da ordem urbana por meio da regulação baseada na higiene, comodidade, beleza. Estes conceitos da urbes se desenvolveram ao longo de Idade Média, tendo sido reinterpretados e ressignificados ao longo dos séculos que se seguiram.


O historiador Jacque Legoff, em seu livro “Por Amor às Cidades”, traça um paralelo interessante entre os sentimentos que envolvem a cidade Medieval e a cidade contemporânea. Para o autor, ao contrario do sentimento de perda que uma demolição ou um incêndio causam nos habitante da cidade, “a idade média prefere ser representada como um canteiro de obras... o otimismo dinâmico urbano: A cidade é um lugar em que mais se constrói, do que se conserva ou se destrói.”[1] Esta ideia do medievalista provoca  a reflexão sobre o que a cidade deve construir: convivência, diálogo, conforto, urbanidade. A aproximação e apropriação entre o centro e a periferia devem ser estimuladas. É preciso construir pontes e não muros como nas cidades antigas, que apesar de proteger, limitavam o crescimento e o desenvolvimento, porque o que estava fora dos muros era o inimigo.

O relatório (apresentado abaixo) traz uma extensa análise das ações legais das questões fundiárias da região ocupada por datas Minerais localizadas nas áreas adjacentes aos terrenos da Sesmaria Municipal, neste momento colocado como soluções para o crescimento urbano da cidade.
Parte final do Relatório
O autor do Parecer encomendado pela Câmara Municipal de Ouro Preto é Joaquim Cipriano Ribeiro, responsável pela analise de documentos e depoimentos de possíveis proprietários dos terrenos localizados em Saramenha, Passa Dez de cima e debaixo, Morros de São João Sant’Ana, São Sebastião, do Veloso, Do Ramos e Lages.

Fragmento do relatório
 Devido ao estado de deterioração do original, optamos por fazer a transcrição integral do documento que será colocada à disposição em anexo.

A velha cidade ainda hoje passa por problemas ligados à regulação urbana. A época é outra, mas a discussões sobre propriedades públicas ou particulares e áreas de expansão ainda estão na ordem do dia, com mais um fator complicador que é a proteção do núcleo tombado. Se na idade média a palavra chave era o construir, agora aparece outro conceito – o preservar-. Estas áreas periféricas possuem patrimônio arqueológico e arquitetônico, além da importante função de emoldurar o núcleo Central. 



Link para baixar a transcrição:


Referências bibliográficas:
 
 Revista Barroco (RB): BRITO, Francisco Tavares de.Itinerario geografico com a verdadeira descripçaõ dos Caminhos,Estradas, Rossas, Citios, Povoaçõens, Lugares, Villas, Rios, Montes,e Serras, que Ha da cidade de S. Sebastião do Rio de Janeiro. Atè as Minas do Ouro. Sevilha, 1732. Barroco, Belo Horizonte,v. 4, p.91-118, 1972. (Edição fac-similar)


LE GOFF, Jacques, 1924 - Por amor às cidades: conversações com Jean Lebrun; tradução Reginaldo Carmello Corrêa de Moraes. - São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1998.



Postagem e revisão: Helenice Oliveira e Polyana Oliveira
 





[1] Fl.138

quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

As festas enquanto espaços de rememoração e afirmação de identidades culturais dos povos – O Reinado de Nossa Senhora do Rosário e Santa Efigênia do Alto da Cruz


Os ritos de memória desempenham papel de socialização, de sentido pragmático,inserindo os indivíduos em cadeias de filiação identitárias, distinguindo-se diferenciando-os em relação aos outros[...]( Cartogra Fernando, Mempria e Identidade. 2001)

Ouro Preto traz como traço marcante de sua história as tradições e manifestações dos povos que a constitui. Neste sentido o resgate dos Festejos à Nossa Senhora do Rosário vem ao longo dos anos proporcionando, não somente aos visitantes, como também aos próprios moradores da cidade um encontro com seu passado.

Grupo Moçambique Santa Efigênia
Foto: Zé do Monte

Grupo de Congado Nossa Senhora do Rosário de Santa Efigênia  do alto da Cruz- Ouro Preto- Festa Sant’Ana Ouro Preto 2018

Nossa população é majoritariamente negra, com tradições e devoções próprias. Desde o período colonial, a Irmandade do Rosário dos Negros se tornou um importante espaço de devoção e socialização. Através das irmandades e Confrarias, o culto à Nossa Senhora do Rosário e aos Santos negros como Santa Efigênia, São Benedito e Santo Elesbão representavam nesta sociedade colonial espaços de distinção e coesão social.


Preservar e difundir as memórias dos antigos moradores, através das tradições por eles deixadas como legado é essencial, na medida em que nossos traços identitários consigam sobreviver e se perpetuar ao longo do tempo. Este ato é uma necessidade para que nossa constituição enquanto ouro-pretano seja compreendida por nós e pelos que convivem conosco.

Figurino  de Raul Belém -  Rainha do Rosário 1993
Figurino  de Raul Belém -  Rei do Rosário 1993
          O Reinado de Nossa Senhora Do Rosário e Santa Efigênia do Alto da Cruz vem ao longo dos anos se consolidando como um destes grandes festejos da cidade de Ouro Preto. A retomada da Festa nos moldes que hoje se apresenta deu-se nos anos de 1993 e 1994, quando a Festa voltou a acontecer, fazendo parte do ciclo de Festejos do mês do Rosário tradicionalmente comemorado no mês de Outubro de cada ano.





Lista das instituições que participaram do Reinado de 1993

 Mais tarde optou-se por separar a Festa do Reinado de Nossa Senhora do Rosário do Alto da Cruz transferindo-a para janeiro e ficando o mês do Outubro para o evento realizado pela Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos do Ouro Preto da Paróquia de Nossa Senhora do Pilar. Nos últimos dez anos a organização dos Festejos passou a ser de responsabilidade da AMIREI- Associação dos Amigos do Reinado, com o apoio de outras instituições como a Prefeitura Municipal, Fórum da Igualdade Racial, Fundação Ouropretana de Folclore e Paróquia de Santa Efigênia.


Neste ano de 2019 a Festa acontecerá entre os dias 06 e 13 de janeiro, conforme programação.
  





Postagem e Revisão: Helenice Oliveira e Polyana Oliveira