segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

FOLGUEDOS E FESTEJOS POPULARES – O ENTRUDO NA ORIGEM DO CARNAVAL

Com a vinda da Corte para o Brasil em 1808, iniciou-se um processo de construção de uma nova imagem da cultura e costumes, através da busca pela prática de civilidade de acordo como moldes europeus.

Neste contexto, práticas que segundo as novas leis fossem dotadas de violência e excessos, que causassem tumultos ou gerassem problemas advindos do consumo de bebida alcoólica, receberam atenção das autoridades para que fossem de certa forma banidas. Pelo menos aos olhos públicos.

O Entrudo esteve entre estas festas consideradas inadequadas. Podemos caracterizar o Entrudo como o “pai do Carnaval”. Antes uma festa portuguesa, a comemoração que também se realizava nos três dias antecedentes a Quaresma, foi trazida para o Brasil pelos colonizadores. E, assim como em Portugal, era comemorada pelas ruas. Uma preparação para os dias de abstinências e orações durante a Quaresma.

O que reinava nas comemorações de Entrudo eram as brincadeiras de “molhança”. O uso de limões-de-cheiro, seringas de água, lamas, farinhas e outras substâncias molhadas promoviam o divertido festejo. Vale ressaltar que muitos desses artigos provinham da indústria familiar de pobres, livres e escravos. Também é possível perceber que esses dias promoviam uma maior aproximação entre homens e mulheres, permitindo o flerte entre eles.

“Cena de Carnaval”: DEBRET, Jean Baptiste.  Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil,prancha 33.1834

O Entrudo reinou como manifestação festiva durante todo o período colonial até o final do século XIX e marcava um momento diferente do cotidiano na sociedade, não acarretando uma ruptura ou subversão do fluxo social vigente na sociedade escravista. Assim, as classes senhoriais em sua maioria celebravam de dentro de suas casas com as pessoas da rua, enquanto, pobres e escravos saiam pelas ruas a se divertir e a vender seus produtos.

Entrudo na Rua do Ouvidor – Ângelo Agostini 1884 -  Detalhe

A proibição do Entrudo foi patrocinada pela disseminação de ideias de barbaridade associadas aos festejos pelos jornais e a criação de Códigos de Postura pelos municípios com a aplicação de multas sobre quem brincava e sobre quem vendia os artigos da festa. A criação das Leis do Império, que vigoraram até 1895, conferiu atribuições às câmaras municipais, que ficaram responsáveis por impedir a comemoração da festa.

Observem abaixo, algumas das iniciativas da Câmara Municipal de Ouro Preto, para tentar impedir a realização do Entrudo:




No entanto, mesmo com as proibições e a “campanha de combatimento”, a sociedade mineira persistiu em tal "pernicioso brinquedo". Assim, observamos que em 1916, ainda se criavam formas de impedir a comemoração do Entrudo:


Aos poucos, as novidades do Carnaval foram superando as brincadeiras do Entrudo. Os bailes mascarados, festas em salões e teatros foram crescendo. Os confetes, serpentinas e máscaras substituíram os limões-de-cheiro, farinhas e lama, mas as ruas continuam sendo o espaço principal da alegria nos dias de folia!





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REFERÊNCIAS:

APMOP – Fundo – CMOP – Série: Governo – Subsérie: Vereança – 1891 e 1916
ARAÚJO, Patrícia Vargas Lopes de Araújo - FOLGANÇAS POPULARES: Festejos de Entrudo e Carnaval em Minas Gerais no século XIX - Annablume Editora, 2008 - 186 páginas
sersustentavelcomestilo.com.br/2012/02/10/o-carnaval-ja-comecou-aqui-no-sse/carnaval-de-rua-prancha-de-jean-baptiste-debret-extrac3adda-da-obra-voyage-pittoresque-et-historique-au-brc3a9sil-paris-didot-frc3a8res-18341/ - último acesso 21/01/2013
peregrinacultural.files.wordpress.com/2012/02/a-agostini-entrudo-ruadoouvidor1884-detalhe.jpg - último acesso 21/01/2013
[Postagem: Vanessa Pereira Silva (Estagiária). Revisão: João Paulo Martins e Helenice Oliveira]



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