quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

SUBINDO E DESCENDO LADEIRAS - AGREMIAÇÕES CARNAVALESCAS DE OURO PRETO

Com a gradual mudança do Entrudo para o carnaval, na virada dos séculos XIX e XX, surgiram novas formas de comemoração. Em Ouro Preto, passaram a ser formados blocos carnavalescos, enfeites e festejos pelas ruas, bem como segurança e liberação de verbas para que a festa acontecesse.

Nos documentos de vereança, é possível encontrar indicações de vereadores, pareceres e autorizações do presidente e agente executivo da CMOP quanto a pedidos para o carnaval. Tudo mudava durante esses dias. As pessoas festejavam pelas ruas, cantavam, dançavam e consumiam produtos carnavalescos vendidos pelo comércio local, que tinha autorização para ficar aberto até mais tarde durante os dias de festa.





Uma das tradições que surgiram neste século e perduram até hoje são as saídas de blocos carnavalescos pelas ruas. Um dos primeiros a surgir na região fora o “Clube dos Lacaios”, fundado em janeiro de 1867 por empregados do Palácio, mais tarde foram intitulados, “Zé Pereira dos Lacaios”, em homenagem ao “Zé Pereira” que surgiu no Rio de Janeiro. Constam histórias de que a fundação do bloco surgiu como resposta a zombaria de outro bloco carnavalesco formado por pessoas de grande representação social, os Machadinhos. Hoje, o “Zé Pereira dos Lacaios”, sai de sua sede no Antônio Dias e desfila pela cidade com seus cariás, ‘boi-da-manta’, catitões, ‘baianas’ e toque de tambores e clarins, contando com a participação da comunidade. 


Cartaz do Carnaval de Ouro Preto - 1993/1995

Zé pereira dos Lacaios na Praça Tiradentes, 2002. APMOP

Uma das mais famosas sociedades do antigo Carnaval de Ouro Preto foi o  Banjo de Prata, que saía às ruas a maneira dos antigos cordões carnavalescos, com canções compostas pelo músico Sr. Pedro Marambaia e jovens da Rua Nova e Rua do Chafariz e outras tradicionais marchinhas. O bloco ficou durante trinta anos sem desfilar e voltou a se apresentar algumas vezes depois.



Bloco Banjo de Prata na Praça Tiradentes, 1993/1995 - APMOP

A Bandalheira Folclórica Ouropretana (BAFO), surgiu no cenário carnavalesco em 1972. Criada pelo Sr. Virgílio Augusto Alves e seu irmão Alcindo Alves Filho, a Bandalheira se tornou um dos maiores símbolos do Carnaval em Ouro Preto.  Segundo os fundadores, este bloco foi criado para homenagear, de forma descontraída, as bandas militares, saindo pelas ruas a tocar instrumentos desafinados e com um ritmo desajeitado, sendo os trajes a camisa branca, calça preta, um rolo de papel higiênico na cintura e o pinico na cabeça. 

 
 Bandalheira Folclórica Ouropretana, na Praça Tiradentes, 1193-5 - APMOP

Bandalheira Folclórica Ouropretana, Rua São José, 2010, Foto de João Paulo Martins - APMOP

Outro bloco tradicional é o “Vermelho i Branco” do bairro do Rosário, que normalmente desfila nas quintas e segundas-feiras. Além desses, existem o Bloco da Barra, em que homens se vestem de mulheres, o Bloco dos Conspirados, da Saúde Mental, O Bloco do Mato, do bairro de São Cristóvão, Diretoria, Gatinhas  e Gatões (do grupo da melhor idade), e os tradicionais blocos das repúblicas estudantis, dentre outros.

Percebemos que com o passar dos anos foi surgindo um novo formato para a festa de Carnaval em Ouro Preto. No entanto, os blocos carnavalescos tradicionais continuam a mexer com o imaginário da comunidade e dos turistas.





_____________________________________________________
REFERENCIAS
APMOP – Fundo – CMOP – Série: Governo – Subsérie: Vereança – 1891 e 1916
APMOP – Fundo – CMOP – Série: Fazenda - Subsérie: Comprobatórios de Receita e Despesa - 1906
1 - SCHUMAHER, Schuma; VITAL BRAZIL, Érico. Mulheres Negras do Brasil. Rio de Janeiro: Senac Nacional, 2007.
[Postagem: Vanessa Pereira Silva (Estagiária). Revisão: João Paulo Martins e Helenice Oliveira]
  
 

SUBINDO E DESCENDO LADEIRAS - AGREMIAÇÕES CARNAVALESCAS DE OURO PRETO

Com a gradual mudança do Entrudo para o carnaval, na virada dos séculos XIX e XX, surgiram novas formas de comemoração. Em Ouro Preto, passaram a ser formados blocos carnavalescos, enfeites e festejos pelas ruas, bem como segurança e liberação de verbas para que a festa acontecesse.

Nos documentos de vereança, é possível encontrar indicações de vereadores, pareceres e autorizações do presidente e agente executivo da CMOP quanto a pedidos para o carnaval. Tudo mudava durante esses dias. As pessoas festejavam pelas ruas, cantavam, dançavam e consumiam produtos carnavalescos vendidos pelo comércio local, que tinha autorização para ficar aberto até mais tarde durante os dias de festa.





Uma das tradições que surgiram neste século e perduram até hoje são as saídas de blocos carnavalescos pelas ruas. Um dos primeiros a surgir na região fora o “Clube dos Lacaios”, fundado em janeiro de 1867 por empregados do Palácio, mais tarde foram intitulados, “Zé Pereira dos Lacaios”, em homenagem ao “Zé Pereira” que surgiu no Rio de Janeiro. Constam histórias de que a fundação do bloco surgiu como resposta a zombaria de outro bloco carnavalesco formado por pessoas de grande representação social, os Machadinhos. Hoje, o “Zé Pereira dos Lacaios”, sai de sua sede no Antônio Dias e desfila pela cidade com seus cariás, ‘boi-da-manta’, catitões, ‘baianas’ e toque de tambores e clarins, contando com a participação da comunidade. 


Cartaz do Carnaval de Ouro Preto - 1993/1995

Zé pereira dos Lacaios na Praça Tiradentes, 2002. APMOP

Uma das mais famosas sociedades do antigo Carnaval de Ouro Preto foi o  Banjo de Prata, que saía às ruas a maneira dos antigos cordões carnavalescos, com canções compostas pelo músico Sr. Pedro Marambaia e jovens da Rua Nova e Rua do Chafariz e outras tradicionais marchinhas. O bloco ficou durante trinta anos sem desfilar e voltou a se apresentar algumas vezes depois.



Bloco Banjo de Prata na Praça Tiradentes, 1993/1995 - APMOP

A Bandalheira Folclórica Ouropretana (BAFO), surgiu no cenário carnavalesco em 1972. Criada pelo Sr. Virgílio Augusto Alves e seu irmão Alcindo Alves Filho, a Bandalheira se tornou um dos maiores símbolos do Carnaval em Ouro Preto.  Segundo os fundadores, este bloco foi criado para homenagear, de forma descontraída, as bandas militares, saindo pelas ruas a tocar instrumentos desafinados e com um ritmo desajeitado, sendo os trajes a camisa branca, calça preta, um rolo de papel higiênico na cintura e o pinico na cabeça. 

 
 Bandalheira Folclórica Ouropretana, na Praça Tiradentes, 1193-5 - APMOP

Bandalheira Folclórica Ouropretana, Rua São José, 2010, Foto de João Paulo Martins - APMOP

Outro bloco tradicional é o “Vermelho i Branco” do bairro do Rosário, que normalmente desfila nas quintas e segundas-feiras. Além desses, existem o Bloco da Barra, em que homens se vestem de mulheres, o Bloco dos Conspirados, da Saúde Mental, O Bloco do Mato, do bairro de São Cristóvão, Diretoria, Gatinhas  e Gatões (do grupo da melhor idade), e os tradicionais blocos das repúblicas estudantis, dentre outros.

Percebemos que com o passar dos anos foi surgindo um novo formato para a festa de Carnaval em Ouro Preto. No entanto, os blocos carnavalescos tradicionais continuam a mexer com o imaginário da comunidade e dos turistas.





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REFERENCIAS
APMOP – Fundo – CMOP – Série: Governo – Subsérie: Vereança – 1891 e 1916
APMOP – Fundo – CMOP – Série: Fazenda - Subsérie: Comprobatórios de Receita e Despesa - 1906
1 - SCHUMAHER, Schuma; VITAL BRAZIL, Érico. Mulheres Negras do Brasil. Rio de Janeiro: Senac Nacional, 2007.
[Postagem: Vanessa Pereira Silva (Estagiária). Revisão: João Paulo Martins e Helenice Oliveira]
  
 

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

FOLGUEDOS E FESTEJOS POPULARES – O ENTRUDO NA ORIGEM DO CARNAVAL

Com a vinda da Corte para o Brasil em 1808, iniciou-se um processo de construção de uma nova imagem da cultura e costumes, através da busca pela prática de civilidade de acordo como moldes europeus.

Neste contexto, práticas que segundo as novas leis fossem dotadas de violência e excessos, que causassem tumultos ou gerassem problemas advindos do consumo de bebida alcoólica, receberam atenção das autoridades para que fossem de certa forma banidas. Pelo menos aos olhos públicos.

O Entrudo esteve entre estas festas consideradas inadequadas. Podemos caracterizar o Entrudo como o “pai do Carnaval”. Antes uma festa portuguesa, a comemoração que também se realizava nos três dias antecedentes a Quaresma, foi trazida para o Brasil pelos colonizadores. E, assim como em Portugal, era comemorada pelas ruas. Uma preparação para os dias de abstinências e orações durante a Quaresma.

O que reinava nas comemorações de Entrudo eram as brincadeiras de “molhança”. O uso de limões-de-cheiro, seringas de água, lamas, farinhas e outras substâncias molhadas promoviam o divertido festejo. Vale ressaltar que muitos desses artigos provinham da indústria familiar de pobres, livres e escravos. Também é possível perceber que esses dias promoviam uma maior aproximação entre homens e mulheres, permitindo o flerte entre eles.

“Cena de Carnaval”: DEBRET, Jean Baptiste.  Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil,prancha 33.1834

O Entrudo reinou como manifestação festiva durante todo o período colonial até o final do século XIX e marcava um momento diferente do cotidiano na sociedade, não acarretando uma ruptura ou subversão do fluxo social vigente na sociedade escravista. Assim, as classes senhoriais em sua maioria celebravam de dentro de suas casas com as pessoas da rua, enquanto, pobres e escravos saiam pelas ruas a se divertir e a vender seus produtos.

Entrudo na Rua do Ouvidor – Ângelo Agostini 1884 -  Detalhe

A proibição do Entrudo foi patrocinada pela disseminação de ideias de barbaridade associadas aos festejos pelos jornais e a criação de Códigos de Postura pelos municípios com a aplicação de multas sobre quem brincava e sobre quem vendia os artigos da festa. A criação das Leis do Império, que vigoraram até 1895, conferiu atribuições às câmaras municipais, que ficaram responsáveis por impedir a comemoração da festa.

Observem abaixo, algumas das iniciativas da Câmara Municipal de Ouro Preto, para tentar impedir a realização do Entrudo:




No entanto, mesmo com as proibições e a “campanha de combatimento”, a sociedade mineira persistiu em tal "pernicioso brinquedo". Assim, observamos que em 1916, ainda se criavam formas de impedir a comemoração do Entrudo:


Aos poucos, as novidades do Carnaval foram superando as brincadeiras do Entrudo. Os bailes mascarados, festas em salões e teatros foram crescendo. Os confetes, serpentinas e máscaras substituíram os limões-de-cheiro, farinhas e lama, mas as ruas continuam sendo o espaço principal da alegria nos dias de folia!





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REFERÊNCIAS:

APMOP – Fundo – CMOP – Série: Governo – Subsérie: Vereança – 1891 e 1916
ARAÚJO, Patrícia Vargas Lopes de Araújo - FOLGANÇAS POPULARES: Festejos de Entrudo e Carnaval em Minas Gerais no século XIX - Annablume Editora, 2008 - 186 páginas
sersustentavelcomestilo.com.br/2012/02/10/o-carnaval-ja-comecou-aqui-no-sse/carnaval-de-rua-prancha-de-jean-baptiste-debret-extrac3adda-da-obra-voyage-pittoresque-et-historique-au-brc3a9sil-paris-didot-frc3a8res-18341/ - último acesso 21/01/2013
peregrinacultural.files.wordpress.com/2012/02/a-agostini-entrudo-ruadoouvidor1884-detalhe.jpg - último acesso 21/01/2013
[Postagem: Vanessa Pereira Silva (Estagiária). Revisão: João Paulo Martins e Helenice Oliveira]



FOLGUEDOS E FESTEJOS POPULARES – O ENTRUDO NA ORIGEM DO CARNAVAL

Com a vinda da Corte para o Brasil em 1808, iniciou-se um processo de construção de uma nova imagem da cultura e costumes, através da busca pela prática de civilidade de acordo como moldes europeus.

Neste contexto, práticas que segundo as novas leis fossem dotadas de violência e excessos, que causassem tumultos ou gerassem problemas advindos do consumo de bebida alcoólica, receberam atenção das autoridades para que fossem de certa forma banidas. Pelo menos aos olhos públicos.

O Entrudo esteve entre estas festas consideradas inadequadas. Podemos caracterizar o Entrudo como o “pai do Carnaval”. Antes uma festa portuguesa, a comemoração que também se realizava nos três dias antecedentes a Quaresma, foi trazida para o Brasil pelos colonizadores. E, assim como em Portugal, era comemorada pelas ruas. Uma preparação para os dias de abstinências e orações durante a Quaresma.

O que reinava nas comemorações de Entrudo eram as brincadeiras de “molhança”. O uso de limões-de-cheiro, seringas de água, lamas, farinhas e outras substâncias molhadas promoviam o divertido festejo. Vale ressaltar que muitos desses artigos provinham da indústria familiar de pobres, livres e escravos. Também é possível perceber que esses dias promoviam uma maior aproximação entre homens e mulheres, permitindo o flerte entre eles.

“Cena de Carnaval”: DEBRET, Jean Baptiste.  Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil,prancha 33.1834

O Entrudo reinou como manifestação festiva durante todo o período colonial até o final do século XIX e marcava um momento diferente do cotidiano na sociedade, não acarretando uma ruptura ou subversão do fluxo social vigente na sociedade escravista. Assim, as classes senhoriais em sua maioria celebravam de dentro de suas casas com as pessoas da rua, enquanto, pobres e escravos saiam pelas ruas a se divertir e a vender seus produtos.

Entrudo na Rua do Ouvidor – Ângelo Agostini 1884 -  Detalhe

A proibição do Entrudo foi patrocinada pela disseminação de ideias de barbaridade associadas aos festejos pelos jornais e a criação de Códigos de Postura pelos municípios com a aplicação de multas sobre quem brincava e sobre quem vendia os artigos da festa. A criação das Leis do Império, que vigoraram até 1895, conferiu atribuições às câmaras municipais, que ficaram responsáveis por impedir a comemoração da festa.

Observem abaixo, algumas das iniciativas da Câmara Municipal de Ouro Preto, para tentar impedir a realização do Entrudo:




No entanto, mesmo com as proibições e a “campanha de combatimento”, a sociedade mineira persistiu em tal "pernicioso brinquedo". Assim, observamos que em 1916, ainda se criavam formas de impedir a comemoração do Entrudo:


Aos poucos, as novidades do Carnaval foram superando as brincadeiras do Entrudo. Os bailes mascarados, festas em salões e teatros foram crescendo. Os confetes, serpentinas e máscaras substituíram os limões-de-cheiro, farinhas e lama, mas as ruas continuam sendo o espaço principal da alegria nos dias de folia!





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REFERÊNCIAS:

APMOP – Fundo – CMOP – Série: Governo – Subsérie: Vereança – 1891 e 1916
ARAÚJO, Patrícia Vargas Lopes de Araújo - FOLGANÇAS POPULARES: Festejos de Entrudo e Carnaval em Minas Gerais no século XIX - Annablume Editora, 2008 - 186 páginas
sersustentavelcomestilo.com.br/2012/02/10/o-carnaval-ja-comecou-aqui-no-sse/carnaval-de-rua-prancha-de-jean-baptiste-debret-extrac3adda-da-obra-voyage-pittoresque-et-historique-au-brc3a9sil-paris-didot-frc3a8res-18341/ - último acesso 21/01/2013
peregrinacultural.files.wordpress.com/2012/02/a-agostini-entrudo-ruadoouvidor1884-detalhe.jpg - último acesso 21/01/2013
[Postagem: Vanessa Pereira Silva (Estagiária). Revisão: João Paulo Martins e Helenice Oliveira]