A paisagem urbana de uma cidade
com mais de três séculos deve ser percebida não apenas em sua parte visível.
Sua constituição histórica formou-se por várias camadas que criaram ao longo do
tempo este ambiente citadino. O subsolo da cidade antiga é parte constitutiva
do ambiente urbano de Ouro Preto, não se pode trabalhar a urbanidade sem nos imergir
em seus subterrâneos, que durante o período de exploração mineral foram os
responsáveis pela opulência da sociedade que por lá se constituiu. Lugares não
só de riqueza, mas também espaço de contato com o que há de mais perverso na
humanidade, a exploração do trabalho escravo.
Esboço de uma parte da cidade de Ouro Preto (20 de Maio de 1913) |
A documentação que hoje
apresentamos facilita. em boa medida, a percepção das mudanças ocorridas no
espaço urbano, sendo o mesmo composto por planta e memorial descritivo.
O memorial e planta sobre as
lavras auríferas dos “Tassaras e arredores” elaboradoras por dois engenheiros de
Minas (Marciano Pereira Ribeiro e Clodomiro de Oliveira) contratados pela
Câmara em 1903 para o levantamento de terrenos foreiros da região. Foi elaborado
um estudo aprofundando da exploração mineral da região mineraria em que se
inserem estes terrenos.
Os autores abordam aspectos
geológicos, físicos e topográficos do subsolo. O estudo traça um histórico da
intensa exploração mineraria ocorrida a partir do século XVIII na região “dos morros dominantes de Vila Rica “-
Morro de Sant’Ana, Morro de São João, córrego da Pedra Grande, Ouro Podre,
Saragoça (sic) Sumaré, Córrego Seco... “O Aspecto físico desses morros se acha
profundamente modificado, já pelos grandes serviços de mineração...”
Memorial Descritivo Folha 6 |
As fases de extração foram
subdivididas, mesmo os engenheiros afirmando que um tratamento cronológico das
atividades era difícil.
As anteriores a 1740, cuja importância
da área como espaço de mineração é assim demonstrada: “O primeiro período anterior a 1740, e do qual não se tem referências
positivas e somente vagas. E da impulsão e atividade que tiveram, se tem atestado
nas numerosas ruínas de edificações grandiosas e no seu numero de serviços a
céu aberto e subterrâneos que se vêm disseminada por toda a parte.”
Memorial Descritivo Folha 7 |
Entre os anos de 1740 a 1790 “...Muitas dessas datas caíram em caducidade e
foram novamente concedidas a outros mineiros.”
Referente ao período de 1800 a 1840 foram utilizados
os estudos do “Barão Eschweg, além de dados contidos no testamento da antiga
concessionária de minas de Joana Gonçalves. Neste intervalo os autores relatam
o episódio ocorrido em 1814, com o cirurgião mor Vieiras da Cruz,
concessionário das minas da Piedade e seus escravos, quando do abatimento das
galerias ocasionou o soterramento de todos. “Esse infeliz mineiro quando explorava a base de um rico veeiro com seus
escravos fora nele sepultado pelo desabamento do mesmo.
Desabamento que segundo
elle fora devido a uma chuva continua de 60 dias... Porem chama mais atenção os
efeitos dessa chuva de 60 dias, é na região das Lavras dos Tassaras. Ai não se caracterizaram
só pela formação de fendas, deu-se o desagregamento (sic) das camadas do
terreno e conseqüentemente seu desabamento, e este foi de tal que deu lugar a
formação de uma verdadeira bacia, que abrange toda área explorada a ceo (sic)
aberto que fica ao norte do morro da Piedade, estendendo-se também para oeste em uma grande extensão...”
Memorial Descritivo Folha 9 |
Memorial Descritivo Folha 10 |
O memorial abrange uma área
considerada de risco geológico que abriga o Parque arqueológico do Morro da
Queimada. Revisitar estes estudos e torná-los palatáveis aos cidadãos é de suma
relevância, afinal são eles os grande interessados na adequação do ambiente
urbano. O movimento de salvaguarda da paisagem urbana de Ouro Preto é hoje um
problema de grande impacto para o poder público e a população. É preciso que
todos reconheçam a importância da cidade para além de um espaço congelado, ela é também
espaço de convivência comunitária com atividades econômicas e tem o papel de qualquer outro espaço urbano do Século XXI.
Referências:
Planta esboço de uma parte da cidade de Ouro Preto, elaborada pelo agrimensor Joaquim José Guimarães Pinto, 1913.
Postagem e Revisão:
Helenice de Oliveira e Polyana Oliveira
Helenice de Oliveira e Polyana Oliveira