Veja a seguir alguns documentos que fazem menção à festa de Corpus Christi nos séculos XVIII e XIX.
Livro de termos de Acórdãos da Câmara de Vila Rica (1751 - 1754) pg 56 - 56v.
Acordão de Vereança comunicando ao Reverendo Vigário da Matriz de Nossa Senhora do Pilar de Ouro Preto sobre a comemoração do Corpo de Deus na primeira quinta -feira do mês, sob responsabilidade da Câmara de Vila Rica, além de reforçar a posição de honra que o estandarte da Câmara deveria ocupar na procissão e o toque do sino quando o dito estandarte chegasse próximo à Matriz.
Livro de termos de Acórdãos da Câmara de Vila Rica (1751 - 1754) pg 56v.
Acordão de Vereança da Câmara de Vila Rica para a publicação do Edital referente à limpeza das ruas, bem como a colocação de armações nas janelas, varandas e portas por onde se passa a procissão do Corpo de Deus.
Fragmento de um texto redigido no ano de 1892 pelo Presidente da Câmara Muncipal de Ouro Preto Sr. Diogo Luiz de Almeida Pereira de Vasconcellos, no qual trata sobre a festa de Corpo de Deus atentando-se para a importância da comemoração dessa solenidade para a população ouro- pretana. Veja a transcrição a seguir:
A festa de Corpo de Deus considera-se como de todas a maior depois do Espírito Santo. Sendo a Instituição da Eucaristia celebrada na época da Paixão, foi de bom aviso designar-se um outro dia para se honrar com as pompas e solenidades convenientes o mais augusto dos mistérios, festa que os ofícios fúnebres da Semana Santa não consentiam se fizesse com a desejada magnificência. Foi o Papa Clemente V quem no Concilio de Viena em 1311, mandando executar a Bula de Urbano IV, que ordenara para a Igreja Universal esta solenidade, marcou-lhe a quinta-feira imediata ao domingo do Espírito Santo. De todos os dogmas do Cristianismo o único que ninguém até o século XI atrevia-se a atentar, pela clareza e precisão do texto, era a transubstanciação das espécies sacramentais. Admitida a Encarnação e a Ressurreição, milagres em que repousam as narrações evangélicas, não há que duvidar da Eucaristia ; cuja Instituição pelo contrário foi o selo final da Redenção. O cristianismo seria uma elegia sem altar e sem deus, seria de todas as confissões a menos atraente, se da absencia do Cristo na Eucaristia chegaremos à negação do mesmo Cristo. Não seria ele o Emmanuel, o Deus convosco, fundamento e ordem de todas as concepções religiosas. Mas o que é certo é que de quantas religiões se estabeleceram, satisfazendo a grande necessidade anímica da fé, nenhuma conseguiu dilatar-se, nenhuma assegurar a vitória e nobilitar a natureza humana como o cristianismo. E todo cristianismo depende, todo ele encerra-se, todo se perpetua no dogma da Eucaristia. A Eucaristia. A Eucaristia é o centro do próprio mistério contínuo, mas palpitante, da vida temporal da Igreja, depositaria da fé, e nunca abalada nas circunstâncias, vida temporal essa que decorre da nossa vida espiritual, cujo alimento é a carne, cuja bebida é o sangue de Jesus Cristo. Não crer na Eucaristia é mais antigo do que professa-la na tradução herética. Os próprios fariseus contemporâneos, homens sensíveis, ouvindo o Mestre, já perguntaram entre si: “como é possível que este homem dê a comer a sua carne e a beber o seu sangue?”. O senhor faltava evidentemente de seu corpo glorificado nas espécies sacramentais; e o texto é tão positivo, tão claro, tão preciso, que não admite solução além do dilema: ou crer ou não crer. Se é certo que no Cristianismo operou-se, o que em nenhuma outra religião se concebeu sem o pauticismo [sic] , a imanência de Deus na humanidade , que é a causa final da encarnação; e se é certo que essa teoria (...).